quarta-feira, 27 de julho de 2011

E se alguém lhe oferecesse....

...a mais inacreditável experiência da sua vida?

A citação é livre, a frase ouvi-a de uma parteira num documentário chamado Orgasmic Birth, cujo subtítulo é: o segredo mais bem guardado.

Deixou-me a pensar, a frase e o filme, e cada vez penso mais nela. A história da humanidade confunde-se obviamente com a história das mulheres e ao longo dos tempos a gravidez, o parto e a maternidade têm sofrido mudanças enormes. Umas para melhor, outras... talvez nem por isso.

É certo que não queremos voltar a parir sem segurança, nem para nós nem para os bebés. No fundo, toda a grávida sabe que o que conta em última instância é que tudo termine com uma mãe saudável com um bebé saudável nos braços.

Só não concordo com as teorias de que para se voltar a uma experiência mais natural há que sacrificar a segurança. A maioria da classe médica refugia-se nos dados e nos resultados para achar que a partir daqui tudo é inquestionável.

É a posição deles, que advém de anos a estudar e a aprender como tratar e resolver os problemas que podem ocorrer durante uma gravidez e durante um parto. É importante pensar nisto. Os obstetras não aprendem a estar ali a olhar para um parto e deixar que tudo aconteça, se de facto nada de errado está a ocorrer. E como acabaram por ser chamados para o centro do parto, começaram a intervir, a intervir, a intervir. A mulher... colabora. Quantas vezes já ouvimos esta expressão?

Mas por alguma razão, as grávidas e as mães de hoje preferem deixar tudo nas mãos dos «especialistas» e tornarem-se meras colaboradoras, quando não espectadoras, do seu próprio parto.

É estranho. Não conheço nenhuma mãe que não queira escolher o berço, não conheço nenhuma que deixe ser outra pessoa a comprar todas as roupas para o recém nascido, nem tão pouco ouvi falar de gente que não tencione escolher a creche para onde irá o seu filho. Porque a verdade é que se calhar o decorador, o fashion adviser e o pedagogo é que sabem o que é melhor nestas alturas, certo?

Então por que razão inter-estelar deixámos nós que os especialistas se apropriassem de um momento tão importante como o nascimento de um filho, principalmente naqueles casos - que felizmente são a graaaande maioria - em que tudo está bem, tudo corre bem e tudo acaba bem?

Porquê? O que é que nos aconteceu para pensarmos que não somos capazes? O que é que nos contaram para que o parto seja sinónimo de dor e de nada mais? O que é que nos mostraram? Mas principalmente, o que é que nos andaram a esconder?...

É por causa desta última interrogação que acho que ver é fundamental. Ver bebés a nascer de forma natural, sem drogas, sem soros, sem tesouras, sem batas brancas por todo o lado, sem gente a mandar fazer isto ou aquilo, sopre agora, faça força, agora esteja quieta, agora não respire.

Ver. Ver como mulheres como nós dão à luz (já nem esta expressão encaixa bem...). Ver como elas conseguem, ver como lidam com aquela dor necessária para que o bebé nasça, ver como ficam depois do nascimento, ver como os bebés se comportam a mamar mal nascem, ver como horas depois se levantam e se sentam e cuidam do recém-nascido.

Falar com elas. Falar, perguntar, ouvir o que têm para dizer. Que história têm para nos contar.

Já vi muitos partos e já falei cara a cara com algumas mulheres que passaram por uma experiência assim. E uma coisa vos garanto. Há uma luz que se acende nos olhos delas e a última coisa de que falam é da dor. Normalmente sou eu que pergunto... E doeu? E aí elas respondem. Sim, claro, mas no meio daquela experiência avassaladora, o que é que isso lhes interessa? Que peso é que tem? Ao que percebo do que me dizem, muito pouco.

Expressões mais utilizadas? Eu conto: fantástico, inacreditável, senti que podia fazer tudo, parecia uma leoa, nunca imaginei que tivesse aquela força dentro de mim, senti que me preparou para a maternidade, foi o momento mais incrível da minha vida.

E então? Quem quer dizer«passo»?


Leiam aqui o testemunho da jornalista da Pais&Filhos, Patrícia Lamúrias, publicado na revista em Maio de 2008. Ela esteve lá.

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