quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Yes we can


Há coisas que temos de ver. Há outras que temos de ouvir e muitas que temos de ler. Quando perdemos contacto com muita coisa que nos é inata, instintiva, selvagem até, temos de voltar a aprender, temos de pensar e depois podemos decidir. Decidir em consciência, decidir com informação, decidir duvidando.

Este projecto tenciona fazer isso mesmo: mostrar às mulheres e aos homens que o nosso corpo está preparado para parir. Que algo vai muito mal quando quase 40 por cento das mulheres portuguesas são submetidas a cesarianas, que algo vai ainda pior quando uma mulher saudável pede para ser operada porque tem medo. Medo porque não conhece. Medo porque não está informada. Medo porque nos perdemos no caminho algures e é tempo de voltar.

A luta pelo parto natural, ou como também gosto de dizer, a luta pela escolha informada, pelo fim das intervenções em catadupa e desnecessárias, contra a excessiva medicalização do parto, contra a forma como as mulheres são (des) tratadas e muitas vezes vítimas de abuso obstétrico, já começou em Portugal. Começou devagar, devagarinho e vai fazendo o seu caminho. Um caminho longo, com muitos obstáculos pelo meio, que só pode ser verdadeiramente desbravado por nós, mulheres e homens que querem voltar a ter uma palavra no nascimento das crianças.

Há sete anos e meio, quando o meu filho nasceu, eu nada sabia e a escolha era praticamente inexistente. Hoje, depois do trabalho de muita gente, já é possível ter um parto natural num hospital (ainda que sejam ainda tão poucos os locais e tão poucos os profissionais que o praticam). É possível.

E quando falo de parto natural, há que explicar o que isto significa. Ou talvez mais fácil será começar pelo que não significa. Não significa apenas um parto sem epidural, embora o seja. Quando falo em poder ter acesso a um parto natural, quero dizer que me será permitido:

1. Movimentar-me livremente
2. Não receber soro e muito menos drogas que acelerem o trabalho de parto
3. Ser assistida com dignidade e respeito pela minha privacidade
4. Ser informada de qualquer e toda a intervenção que vier a ser feita
5. Apenas ser submetida a uma episiotomia (corte dos tecidos vaginais) em caso de necessidade de acelerar o parto (por razões estritamente médicas - e aqui não se inclui a hora de jantar do profissional de saúde)
6. Permanecer sempre junto do bebé e amamentá-lo na primeira meia hora de vida

E só assim o parto natural pode acontecer. E só nestas condições é que me passa pela cabeça não utilizar anestesias de qualquer espécie. Porque por cada ponto não respeitado gerar-se-á a necessidade de uma nova intervenção.

Estar na posse de toda a informação possível, sobre todos os actos médicos que podem ser feitos durante o trabalho de parto e sobretudo sobre o que vai acontecer ao nosso corpo e ao nosso espírito durante aqueles momentos, é fun-da-men-tal.

É por isso que projectos como este do One World Birth são válidos, importantes e bem vindos.
A mudança começa dentro de cada um de nós (passe o cliché)...

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